Apesar da influência significativa que o futebol tem na cultura brasileira, a figura da mulher se apresenta de forma tímida e oprimida, como comprova o Decreto-Lei 3.199 de 1941, vigente até 1975, que para as mulheres proibia a prática de futebol. Quando as mulheres resolveram "brigar" por igualdade e se agregarem ao futebol, este esporte já estava bem firmado pela sociedade machista e se encontrava em uma fase que o profissionalismo já havia sido aceito. Portanto, o futebol era visto como um esporte determinantemente masculino, "futebol é coisa para homem", devido à postura que os atletas deveriam assumir:
...o bom jogador de futebol jamais deve temer o adversário fisicamente, deve exercer seu "direito" de retaliação quando agredido fisicamente; não deve fraquejar diante de uma derrota (...), deve se fazer respeitar - ainda que pela presença física - pelo juiz. A violência é legitimada pela torcida, especialmente quando há iminência de gol, quando os adversários tentam levar a equipe por quem ela torce ao ridículo, pela secessão de dribles ( dando "olés"), quando tentam fazer "passar o tempo" ("cera") e quando há uma falta - ou sucessão de faltas - violenta, o que geraria o direito do atacado revidar (FLORES, 1982, in - BRUHNS, 2000).
O futebol feminino na atualidade
Hoje ainda não é possível afirmar que as dificuldades daquela época foram vencidas. Isto considerando que a sociedade ainda (mesmo que a idéia esteja começando a mudar) discrimina a mulher que mostra um interesse na prática (BRUHNS, 2000). Pode-se afirmar esse fato através de análises feitas no campo sociológico. Por exemplo, a sociedade em geral age dessa forma: quando uma criança nasce ela é condiciona desde cedo e de acordo com a configuração de seus órgãos sexuais, a agir de tal forma, ter certas preferências. Se for menino ganham carrinhos, armas e bonecos de super-heróis, enquanto meninas ganham bonecas e miniaturas de eletrodomésticos e utensílios (DAOLIO, 1997).
Isso comprova que a cultura exerce influência tremenda na discussão, visto que existem fatores na atualidade provenientes dessa cultura. Como o fato de meninos terem, em sua maioria, um desempenho motor muito melhor comparando os gêneros no esporte (DAOLIO, 1997). Isso se dá pelo menino sair para brincar na rua, correr, soltar pipa, jogar bola, andar de carrinho de rolimã e etc, desde pequeno para não atrapalhar a mãe em casa. Em contrapartida as meninas devem ficar em casa, a fim de ser preservadas das brincadeiras de menino e ajudar as mães nos trabalhos domésticos, que lhes serão úteis futuramente quando se tornarem esposas e mães, o que deixa um ar de delicadeza em torno da menina. Ar que é quebrado quando ela tenta "invadir" um espaço masculino, de acordo com a maior parte da sociedade (PIORKOWSKY, 2005).
A mulher no esporte em geral, é lembrada não por seu desempenho ou conquista, mas pela sua beleza e sexualidade frente ao que a mídia retrata, "o jogo bonito de se ver" não está relacionado as jogo em si, nem ao aspecto estético das belas jogadas, mas às pernas das jogadoras, às "sainhas e bermudas", enfim, associado a imagem veiculada e vendida pela indústria cultural, determinando padrão de beleza feminina, que confunde a estética do jogo com a estética do corpo ( BRUHNS, 2000).
A profissionalização no Brasil é acentuadamente difícil, visto que não há uma entidade forte que organize o futebol feminino e também não há investimento público nem privado (SUGIMOTO, 2003). Nos EUA, o futebol é visto como esporte feminino, enquanto que em 1994 foi o vice-presidente quem entregou a Taça ao capitão da seleção brasileira, Dunga, e em 1996 foi o próprio Bill Clinton quem entregou a Taça pelo mesmo evento, porém feminino. O que não significa que a mulher é bem mais reconhecida lá do que é aqui nos esportes, frente que a mesma não tem vez no futebol americano e no beisebol, dois dos esportes mais difundidos nos EUA (SUGIMOTO, 2003).
Enquanto não há um reconhecimento por parte da sociedade, algumas mulheres vão se envolvendo com o futebol por caminhos diferentes, sem necessariamente precisar ser atleta:
Campeonato Brasileiro de Futebol. A disputa era entre São Paulo e Guarani. Estádio lotado, jogadores a postos e torcida animada. Eis que entra em campo a equipe de arbitragem. Nesse momento, muitos não acreditavam no que viam. Outros estavam indignados. Alguns ficaram sem reação. O motivo dos diversos sentimentos era a trio de arbitragem, 100% feminino, composto por Sílvia Regina de Oliveira e as assistentes Ana Paula da Silva e Aline Lambert (...) (Revista Mulher e Carreira, agosto de 2004, p. 24).
Essa fonte comprova que a mulher vem ganhando cada vez mais espaço no futebol, e que mesmo vítimas de muito preconceito, continuam firmes na luta pelo seu próprio reconhecimento no esporte.
Desde o princípio o futebol feminino tem sofrido muitos preconceitos. Ainda hoje é muito difícil para esse esporte se firmar, visto que não há instituição responsável por administrar a modalidade no Brasil.
Por muito tempo, a questão do sexo tem sido usada para impedir a participação feminina nos esportes. Disfarçando o preconceito, um discurso de que é uma forma de preservar a feminilidade.
A mídia também tem um pouco de culpa na situação atual, uma vez que não tem dado importância à atleta feminina tanto quanto ao masculino, e quando abre uma exceção, acaba enfocando a beleza da mulher, o "corpo", a questão da sexualidade, e não o esporte em si.
Enquanto a mentalidade da sociedade não mudar, as mulheres sempre terão dificuldade em conquistar seu espaço. "Não é a identidade feminina que requer reconhecimento, mas sim a condição das mulheres como parceiras plenas na interação social" (FRASER, 2000).
Belo Texto...
ResponderExcluirRealmente o Brasil precisa se concientizar nesse assunto,a sociedade em si ainda não respeita a opção de algumas mulheres,que estão lutando para terem o reconhecimento que merecem no esporte,principalmente no futebol feminino.